domingo, 16 de agosto de 2009

Ações Antrópicas X Sustentabilidade


Catskill, New York
Catskill, road
Catskill, fall













"Nós, Homo sapiens, chegamos e delimitamos muito bem nosso território. Ganhadores da loteria darwiniana, modelos vivos da evolução, macacos bípedes industriosos com polegares oponíveis, estamos acabando como os pica-paus-de-bico-de-marfim e outros milagres à nossa volta. À medida que os habitats encolhem, as espécies diminuem de extensão e abundância no mundo inteiro. Descem toda a escada da Lista Vermelha e a grande maioria desaparece sem ser notada. Sendo distraídos e egoístas, como é nossa natureza, ainda não compreendemos perfeitamente o que estamos fazendo. As futuras gerações, porém, dispondo de muito tempo para refletir, compreenderão perfeitamente o que aconteceu, com todos os detalhes dolorosos. Quanto maior o entendimento, maior a sensação de perda. Haverá milhares de pica-paus-de-bico-de marfim para lamentar nos próximos séculos e milênios.
... Os sinais de que os limites de resistência da biosfera estão prestes a ser excedidos são abundantes. A pesca oceânica representa hoje um mercado de 2,5 bilhões de dólares para os Estados Unidos e 82 bilhões de dólares para o mundo inteiro. A tendência, porém, é de que não ultrapasse esse valor, simplesmente porque a área ocupada pelos oceanos não pode aumentar e sua capacidade de sustentar formas de vida é limitada. Em consequência, todas as 17 zonas pesqueiras do mundo já atingiram, ou ultrapassaram o limite da sustentabilidade. Na década de 90, a quantidade total de pescado se estabilizou em 90 milhões de toneladas por ano. As previsões são de que este número diminua nos próximos anos, apesar do aumento da demanda. As zonas pesqueiras do Atlântico Norte, do mar Negro e de partes do Caribe já mostraram sinais de esgotamento. A aquicultura, ou criação de peixes, crustáceos e moluscos, pode compensar em parte esta tendência, mas a um custo cada vez maior para o ambiente. Esta "revolução das escamas e conchas" só é possível com a conversão de habitats preciosos, que atualmente asseguram a sobrevivência de muitas espécies marinhas. Para alimentar as populaçãoes cativas, será necessário desviar recursos da produção de alimentos. Assim, a aquicultura compete com outras atividades humanas, ao mesmo tempo em que ameaça os habitats naturais. O que antigamente podia ser colhido de graça hoje precisa ser fabricado. A consequência é uma pressão inflacionária sobre a economia das zonas costeiras.
Outro caso típico: as florestas capturam a água da chuva e a purificam ants de devolvê-la aos rios e lagos, tudo de graça. Para substituí-las, são necessários grandes investimentos. Durante muitas gerações, a cidade de Nova York usufruiu da água excepcionalmente limpa que vinha das montanhas Catskill. Os moradores daquela bacia hidrográfica se orgulhavam do fato de que sua água era engarrafada e vendida em todo o nordeste. Com o aumento da população, porém, muitas das florestas da bacia foram derrubadas para dar lugar a fazendas, cidades e áreas de lazer. Pouco a pouco, os esgotos e resíduos agrícolas foram contaminando a água até que ela caiu abaixo dos padrões estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental. As autoridades da cidade de Nova York se viram diante duas alternativas: podiam construir uma usina de tratamento para substituir a água da bacia de Catskill, a um custo de 6 a 8 bilhões de dólares, ou aplicar 1 bilhão de dólares na recuperação da bacia. Não foi fácil chegar a uma decisão, mesmo para aqueles nascidos e criados em um ambiente urbano. Em 1977, a cidade iniciou um programa para comprar as terras ainda ocupadas por florestas e subsidiar a reforma de fossas sépticas nos Catskill, subsidiado através da emissão de Bônus de Proteção Ambiental. Não há razão para que os moradores da cidade de Nova York e dos Castkill não possam desfrutar de um duplo presente da natureza na forma de uma fonte de água pura por um custo baixíssimo e uma bela área de lazer a custo zero.
A solução escolhida tem uma vantagem adicional: as florestas de Catskill ajudam a proteger a região contra inundações.
(Wilson, E. O. 2002)

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