segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Fundamentos Ecológicos I

AUTO-ECOLOGIA (ECOLOGIA DAS POPULAÇÕES): de acordo com Schroter (1896) estuda as relações de uma única espécie com seu meio. Define essencialmente os limites de tolerância e as preferências das espécies em face dos diversos fatores ecológicos; examina a ação do meio sobre a morfologia, a fisiologia e o comportamento; não são consideras as interações da espécie com as outras; determina as preferências térmicas de uma espécie permitirá explicar sua localização nos diversos meios, sua distribuição geográfica, abundância e atividade. A dinâmica das populações (Schwertfeger, 1963) descreve as variações da abundância das diversas espécies e procura as causas dessas variações.
Conceito de Sinecologia (ECOLOGIA DAS COMUNIDADES): estuda as correlações entre as espécies e as relações destas com o ambiente. Analisa as relações entre os indivíduos pertencentes às diversas espécies de um grupo e seu meio (Schroter, 1902). O termo biocenótica (Gams, 1918) é praticamente um sinônimo. O estudo das comunidades pode adotar dois pontos de vista: 1. Sinecologia descritiva: descrever os grupos de organismos existentes em um determinado meio; desta forma obtém-se conhecimentos precisos sobre a composição específica dos grupos, a abundância, freqüência, constância e distribuição espacial das espécies. 2. Sinecologia funcional: descreve a evolução dos grupos, as influências da sucessão em determinado lugar; estuda os transportes de matéria e de energia entre os diversos constituintes de um ecossistema.
Conceito Biológico de Espécie: Mayr (1982), diz que “espécies são grupos de populações atualmente ou potencialmente intercruzantes, que são reprodutivamente isoladas e que ocupam um nicho específico na natureza”. Tais grupos não apenas não intercruzam, mas não têm o potencial para cruzar. A potencialidade é importante, pois algo além do isolamento reprodutivo deve impedir a produção de híbridos viáveis; eles devem ser separados nas denominadas populações alopátricas (isoladas geograficamente), sem serem reprodutivamente isoladas. Se eles voltam a ficar juntos, tornam-se simpátricas, podendo prosseguir o cruzamento. O cruzamento é propriedade das populações como um todo, não de um organismo. Também conhecida como especiação geográfica, é o fenômeno que acontece quando grandes populações biológicas ficam fisicamente isoladas por uma barreira externa e envolve isolamento reprodutivo (genético), de tal modo que depois da barreira desaparecer, indivíduos das populações já não se poderem cruzar.
EXPERIMENTO DE MAYR E DOBZHANSKY: de acordo com Begon et al. (2008), os céticos pensam que espécie é aquilo que os taxonomistas consideram como tal. Entretanto, na década de 30, os biólogos norte americanos Mayr e Dobzhanzjky, elaboraram um teste com o objetivo de decidir se duas populações eram parte de uma mesma espécie ou de duas espécies diferentes. Desta forma, reconheceram como membros de uma mesma espécie, aqueles que podiam de acasalar na natureza e produzir prole fértil, ao menos potencialmente. A esse fato, eles denominaram “espécie biológica”. Na prática, os biólogos não aplicam este teste, em detrimento do tempo e dos recursos. Além disso, existem várias situações na natureza onde na maioria dos microorganismos, apresenta ausência de reprodução sexual, tornando inapropriado o critério estrito do cruzamento. O importante no teste de Mayr e Dobzhansky, é reconhecer que se membros de duas populações são capazes de hibridar e seus genes são combinados e distribuídos na progênie, então a seleção natural nunca poderá torna-los verdadeiramente distintos. Embora a seleção natural possa tender a forçar uma população a evoluir em duas ou mais formas distintas, a reprodução sexuada e a hibridização provocam novamente a mistura delas.
Especiação simpátrica: é a divergência genética de várias populações (de uma espécie parental única) que habitam a mesma região geográfica, de modo que essas populações se tornam espécies diferentes. Populações que sofrem especiação simpátrica não estão geograficamente isoladas. A especiação simpátrica é comum em plantas, pois desenvolvem conjuntos múltiplos de cromossomos homólogos, resultando em poliploidia. Descendentes poliplóides ocupam o mesmo ambiente que as plantas parentais (daí a simpátrica), mas estão reprodutivamente isoladas. Um exemplo raro de espécies simpátricas em animais é a divergência de Orcas residentes e migradoras no nordeste do Oceano Pacífico. As orcas residentes e migradoras habitam as mesmas águas, mas evitam-se umas às outras e não se cruzam. As duas formas caçam presas diferentes e têm dietas, comportamento vocal e estruturas sociais diferentes (Burden et al., SC/56/SM15).
Não é aplicável a todas as espécies, isto é, espécies assexuadas, espécies com introgressão, hibridização e espécies fósseis; não é útil aos taxonomistas clássicos e não têm dimensão evolutiva; só podemos aplicá-lo às populações mendelianas; espécies são definidas por seus nichos ecológicos; sugere que espécies ocupam “zonas adaptativas” que são determinadas e reforçadas pelos recursos explorados e hábitats ocupados; sua ligação com a genética é fraca, falta dimensão evolutiva e está rigidamente vinculada aos nichos ecológicos determinando espécies; é preciso considerar que mesmo em diferentes estádios de vida um organismo poderá ocupar diferentes nichos; porém, os processos ecológicos influenciam aspectos fenéticos e genéticos das espécies.
Conceito de Reconhecimento de Espécie: “Espécie é a população mais inclusiva de indivíduos biparentais que compartilham um sistema comum de fertilização” (Paterson, 1983); ou seja, espécie é definida pela sinalização sexual ou sistemas específicos de reconhecimento no acasalamento. Para alguns autores, isolamento e reconhecimento são dois lados da mesma moeda e juntos dão o conceito biológico. Pode ser considerada como um complemento do CBE. Deficiências: falta de dimensão evolutiva e a dificuldade em conceituar os mecanismos que conduzem à especiação.
Conceito de Coesão: “Espécie é a população de indivíduos mais inclusiva, tendo o potencial para coesão fenotípica através de mecanismos de coesão intrínsecos” (Templeton). Este conceito busca combinar isolamento reprodutivo, seleção ecológica e compatibilidade reprodutiva, deste modo o foco são os mecanismos que mantêm a coesão genotípica e fenotípica naqueles grupos de populações que reconhecemos como pertencentes a diferentes espécies. Vantagem: tanto a hibridização como a assexualidade, que não podem ser incluídas no CBE, aí poderiam estar.
Conceito Evolutivo de Espécie: “Espécie é uma linhagem evoluindo separadamente de outras para permitir a classificação de espécies fósseis e vivas” (G. G. Simpson). “Espécie evolutiva é uma única linhagem de populações de organismos ancestral-descendente que mantém sua identidade separada de outras linhagens, no espaço e no tempo, e que tem suas tendências evolutivas e destino histórico”(Wiley);
Conceito Filogenético de Espécie: os indivíduos que pertencem a uma espécie contém todos os descendentes de uma única população de ancestrais, ou seja, são monofiléticos; ou seja, “o menor agrupamento diagnosticável de organismos individuais, dentro dos quais há um padrão de ancestralidade e descendência”. A classificação deve refletir a relação ramificada entre as espécies, a qual é indicada por um cladograma (J. Cracraft). Vantagens: clara dimensão evolutiva; uso de características micro e macro no estabelecimento de filogenias e de pontos de ramificação sendo o conceito mais rico em estudos paleontológicos.
CONCLUSÃO: a espécie é uma categoria taxonômica no sistema hierárquico de Lineu e teoricamente a unidade de evolução. Os conceitos de espécie, de um modo geral, focalizaram os seguintes aspectos principais: 1- características morfológicas usadas para distinguir espécies (características fenéticas ou fenotípicas, matematicamente quantificáveis ); 2- propriedades biológicas que mantém as espécies separadas (isolamento reprodutivo); 3- propriedades biológicas que mantém as espécies (fertilização e coesão genética). Alguns conceitos definem espécies num instante no tempo, enquanto outros procuram defini-las através do tempo geológico, outros apontam o processo de especiação, enquanto outros dirigem a atenção para os produtos da especiação. Na prática a identificação de espécies usualmente é fenética, a definição operacional mais comum é o CBE – conceito biológico de espécie e o próximo conceito mais útil é o CR – conceito de reconhecimento.
Habitat: é um local específico ou região onde se desenvolvem ou vivem os seres vivos de forma organizada; oferece as condições climáticas, físicas e alimentares adequadas para o desenvolvimento de uma determinada espécie;
Microhabitat: lugar, substrato, microclima e situação exata de uma espécie dentro de uma comunidade. Parte específica do habitat, que apresenta condições ecológicas específicas como temperatura, umidade, pH, luminosidade, entre outros.
Biótopo ou Ecótopo: área geográfica de superfície e volume variáveis, submetida a condições cujas dominantes são homogêneas (PERES, 1961). Do grego Bios: vida e Topos: lugar. Lugar onde há vida. É o componente físico do ecossistema (MARGALEF, 1980). Área com características físicas, químicas e condições ambientais uniformes; área ocupada pela biocenose; é o meio físico onde vivem os seres vivos de um ecossistema; é o local ocupado por uma comunidade biológica, sendo definido por parâmetros como o clima e características do substrato. Para viver, a biocenose depende de fatores físicos e químicos do meio ambiente. Em uma floresta, o biótopo é a área que contém um tipo de solo (com quantidades típicas de minerais e água) de outros elementos abióticos como gases, umidade, temperatura, grau de luminosidade, etc. Os fatores abióticos de um biótopo afetam diretamente a biocenose, e também são por ela influenciados. O desenvolvimento de uma floresta, por exemplo, modifica a umidade do ar e a temperatura de uma região.
Ecótono: “Transição entre duas ou mais comunidades diferentes é uma zona de união ou um cinturão de tensão que poderá ter extensão linear considerável, porém mais estreita que as áreas das próprias comunidades adjacentes”. “A comunidade do ecótono pode conter organismos de cada uma das comunidades que se entrecortam, além dos organismos característicos” (Odum, 1972). "Zona de transição que determina a passagem e marca o limite de uma biocenose à outra" (Dajoz, 1973). “Zona de transição entre dois biomas que se caracteriza pela exuberância dos processos vitais e mistura relativa de espécies circundantes”. A estas características se chama “efeito de borda" (Carvalho, 1981). "Zona de contato ou transição entre duas formações vegetais com característica distintas" (Resolução n° 12, de 4.05.94, do CONAMA). Exemplo: o Agreste do nordeste brasileiro, zona de transição entre o Sertão e a Zona da Mata; as Matas de Cocais, zona de transição entre o Bioma Amazônico e a Caatinga
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